A primeira vez que estive na 'Mérica, caí de pára-quedas numa terreola no meio do Mississippi. A primeira vez que cumprimentei uma nativa da 'Mérica, pespeguei-lhe dois beijos na bochecha e a moça ia morrendo. Lição aprendida: estender a mão. Muito bem. Mas com o tempo, os apertos de mão mais formais, deram lugar aos abraços. Estranhei. Da segunda vez que me enterrei em Terras de Tio Sam por 3 meses (tempo máximo que lá podia ficar sem me chatear com o visto), já levava a lição bem aprendida e começava com apertos de mão. Depois, eles lá decidiam que abraçar é que era bom e eu pronto, tudo bem. A terra onde fores ter, faz como vires fazer. Mas estranhei. Da terceira vez, fiz da mesma forma, que era para não passar por pacóvia ou tolinha beijoqueira. Da quarta vez, aquela em que me mudei de armas e bagagens para a 'Mérica, encontrei uma das melhores pessoas à face da terra: o meu querido Matt. É igualzinho ao Peter Griffin, sem tirar nem por. Só não se ri da mesma forma, mas fisicamente, são gémeos. O Matt, ainda recordado da europeia dos saltos altos perdida nos corredores do laboratório meses antes e sabendo-me de volta a terra onde não conhecia ninguém e onde me entretinha a perder várias vezes ao dia pelo meio da neve, arranjou o meu email com a Boss e vai de me mandar um convite que até hoje relembro, palavra por palavra: "Care to join me for breakfast tomorrow? I'll pick you up at 8.30 am, give me the address". E porque não? O tipo era tão pontual que doía. Chegada ao carro (banheira) vai de dizer olá, olá e toldada pelo sono, pespeguei-lhe duas grande beijocas. O pobre corou até à raiz dos cabelos claros e disse-me, atrapalhadíssimo, que beijos era cena que não lhe assistia, perdido de riso e envergonhado. Eu quis meter-me num buraco qualquer ou levar com uma bola de neve na cabeça para me fazer de inconsciente. Ultrapassado o incidente da beijoquice matinal, o tempo deu lugar a uma grande amizade, onde o ritual do pequeno-almoço se repetia religiosamente todos os Domingos, que depois deu espaço a almoçarmos juntos durante a semana e a jantar quando nos apetecia. Ah, e as idas a bares de desporto, onde falávamos mal da tola da chefe que nos tinha calhado, que futebol americano é que era e que futebol do velho continente era para meninas. Passei a ser grande fã dos Green Bay Packers só porque ele o era, que eu cá gostava era do Tom Brady. Também nunca me conseguiu fazer perceber as regras que aos meus olhos, aquilo "era nossa, que biolência"... Mas juntamente com isto tudo, passaram a vir os abraços. Não eram abracinhos, de braços esticados e estás a consumir o meu oxigénio. Nada disso. O rapaz que corou como se fosse morrer porque lhe espetei dois beijos nas bochechas, passou, diariamente, a prender-me num abraço bem forte e sentido todas as manhãs, quando eu chegava ao lab com a terceira caneca de café na mão, ainda meia a dormir. Está certo... Dois beijinhos é que não, que somos moços de pudores e bons costumes, mas abraçar bem forte, já pode ser. E ainda hoje, quando falamos e lhe mando um beijo, o pobre fica para morrer. E a tola sou eu? Crazy Americans...
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E eu é que fico aflita quando me abraçam, já sou pouco dada a beijos, os abraços então deixam-me nervosa... Já os brasileiros é o mesmo, mas esses é dois beijos e um mega abraço que nos tira o ar... Mas eu, apesar de ficar nervosa com os abraços acho que é uma forma mais calorosa e sentida de se cumprimentar alguém...
ResponderEliminarAh e Peter Griffin só por si já é uma imagem cómica, faço ideia ao vivo e a cores!
Eu gosto tanto de um bom abraço.
ResponderEliminarDaqueles que nos enchem de carinho, no próprio instante!
Um abraço para ti*