Dissertações de quem não tinha mais que fazer...

 

Gosto de rímel. Gosto de rímel preto, nada de invenções de rímel azul, castanho, dourado ou às flores. Rímel é preto. Não gosto de base, asfixia-me a cara e fico sempre a sentir-me a mulher na máscara de ferro. Mas gosto muito de rímel. E de lápis preto. Mas mais rímel. Não gosto de tapa olheiras e bases, verdade que não. Aborrece-me de morte ter de por e espalhar e uniformiza e passa a mão e a esponja e "ai que o seu tom de pele não é fácil" e nisto vai-se a minha juventude e olha que eu já não caminho para nova. Mas gosto de rímel. De rímel e de lápis preto. Menos quando choro. Aí é o cabo dos trabalhos ter de dizer que não, que não estive a chorar, que não nada, que não sou moça de lágrima fácil e "in your dreams que me apanhas a chorar". É um problema gostar de rímel e de lápis preto. Fico uma amalgama de branco com fios preto carvão bochechas abaixo. Devia ser mais morena, se calhar disfarçava mais. Ou trazer toalhitas desmaquilhantes na carteira que enganam muito bem muito boa gente. Menos a senhora minha Mãe, que essa nem com manteiga lhe desce que não, que nada, que não estive a chorar e que a culpa é da cebola do jantar de ontem. Mas gosto de rímel e lápis preto na mesma. Podia dar-me para pior...