No fim da Faculdade, a média obtida e a vontade de sempre de fazer algo a que os meus Pais torceram o nariz levou-me a começar um Doutoramento numa área que gosto. Gosto muito.
Comecei com a força e a alegria dos vinte e poucos, determinada em que poderia ajudar pessoas nos bastidores. Chegada à recta final deste percurso, falham-me as pernas, faltam-me as forças. O desgaste destes anos pesa-me nos ossos. Mas quem corre por gosto não cansa. Não fosse agora que vejo a meta ao fundo, bem lá ao fundo, aperceber-me que tanto esforço e sacrifícios pessoais, talvez tenham sido em vão e continuaria com o mesmo ânimo com que comecei.
Mudei-me para o outro lado do Mundo neste percurso, acompanhada "apenas" da Mofli. Não conhecia ninguém. Nem sequer sabia onde era o supermercado ou como chegar do ponto A ao ponto B sem me perder horas a fio. Foram meses que me pareceram anos. Ganhei Amigos e descobri em mim uma pessoa com mais garra do que a que sabia ter. Vivi numa cultura que para mim, europeiazinha de gema, me dava alguns ataques de caspa em certos aspectos, como o sistema de saúde. Chorei muitas vezes pela solidão que me cercava, com saudades de casa, do Marido, da Família, dos Amigos. Mas sempre acreditei que seria por um futuro melhor.
Hoje, começo a cada vez menos acreditar nisso. Vejo Amigos que partem com o desalento que um País mergulhado num marasmo de crise lhes tem para oferecer. Talvez sejam a nova geração de emigrantes. Uma geração altamente qualificada, capaz de feitos extraordinários mas que nos dias de hoje são nada, zero. Porque a crise, sempre a merda da crise, lhes atira com as malas para fora de fronteiras e lhes diz para dar uso ao que tão bem sabem fazer num outro País. E o mesmo País que lhes dá um chuto de desprezo regojiza-se quando o seu trabalho é aplaudido no estrangeiro, batendo no peito e dizendo que são Portugueses, orgulho da Nação. Pudesse eu, também voltava a fazer as malas, pegava no Marido, Filha e Cadela e fazia-me à vida num outro País. Mas por motivos profissionais de quem comigo caminha nesta estrada da vida, não é opção. E ir sozinha, seria arrancar-me o coração do peito a sangue frio.
Hoje, nos vinte e muitos, quase nos -intas, apercebo-me de que as capacidades que me abriram portas são as mesmas que agora me fecham oportunidades. A mim e a tantos outros da geração rasca, mileurista. Porque não há verbas, porque não há vontade, porque sim, porque não, porque a crise "come tudo e não deixa nada".
Mas como dizia um querido Amigo, preocupa-te com o agora. Talvez esse seja o caminho a seguir, pensar no hoje, que o amanhã vem depois. Ou não dissesse já a Scarlett, "after all, tomorrow is another day..."
Ânimo, tudo vai melhorar, a nossa parte é não desistir dos nossos sonhos e lutar muito por eles!
ResponderEliminarBeijinhos
adorei o texto! Verdade!
ResponderEliminarEu faço parte dessa geração... acabei o curso e andei aos caídos sem nunca arranjar nada muito decente... Atirei-me a um mestrado e com ele consegui o trabalho que tenho hoje... Um trabalho de caca (numa boa empresa, mas isso não chega) para o qual nao precisava de um terço das minhas qualificações! Para tu teres uma ideia os meus colegas sao 2 engª como eu, um espanhol de gestao, uma de RH e dois sem estudos... Só para veres que quase um sem olhos conseguia vir fazer isto... É deprimente, a minha unica motivaçao é que estou a 50km de casa quando já estive a 200... Se chega? Duvido!
ResponderEliminarEstarei sempre aqui, ali e acolá...bj
ResponderEliminarComo eu te entendo, minha querida.
ResponderEliminarE cada vez mais...
E agora, neste impasse que anda a nossa vida, começamos a ponderar seriamente seguir outro caminho. Um caminho num sítio diferente...
Se me agrada?!? NADA! Mas se tiver que ser, assim será...
Um beijo enorme para ti, para vocês*