31 janeiro 2012

Das músicas que me aquecem o coração XXXII... e do azarado Janeiro...

Estou contente que hoje acabe Janeiro. Foi um mês mau, para não dizer pior. Estranho, sobressaltado, avariado, extraviado de todo. Tal como eu... Preciso de uma dose maciça de cafeína, via IV, stat, para ontem, já...  por favor. Não se dormiu a noite toda nesta casa, foi de gritos, literalmente. A Francisca chorava, tossia, espirrava e contorcia-se toda. Acalmou por volta das seis da manhã para recomeçar às oito e pico. Valeu-me a ajuda da minha Mãe, antes que também eu desesperasse e me juntasse ao pranto. 
Ainda bem que Janeiro chega hoje ao fim. Porcaria de mês...  
Vou fechar os olhos 5 minutos no sofá enquanto a piquena dorme um bocadinho e sonhar que como amanhã, porque é Fevereiro e eu acho que isso faz toda a diferença do mundo (não acho nada mas eu hoje também não dou uma para a caixa), a coisa vai endireitar, correr melhor, sem ou com menos pink elephants in the room ... 
 Every time I look in the mirror 
All these lines on my face getting clearer 
The past is gone 
It went by, like dusk to dawn 
Isn't that the way 
Everybody's got their dues in life to pay 

Yeah, I know nobody knows 
where it comes and where it goes
I know it's everybody's sin 
You got to lose to know how to win 

Half my life's
in books' written pages 
Lived and learned from fools and 
from sages 
You know it's true 
All the things come back to you 

Sing with me, sing for the year
Sing for the laughter, sing for the tear
Sing with me just for today 
Maybe tomorrow, the good lord will take you away 
(...)

Dream On Dream On Dream On 
Dream until your dream comes true
Dream On Dream On Dream On 
Dream until your dream comes through 
Dream On Dream On Dream On 
Dream On Dream On 
Dream On Dream On

 

30 janeiro 2012

Do sentimento de culpa...

Pesa uma tonelada em mim o sentimento de culpa. Corrói-me, destrói-me, desfaz em bocados pequeninos a minha alma. 
"A Francisca esteve em contacto com alguém doente?", foi-me perguntado duas vezes. Nas urgências e hoje pela Pediatra. E a verdade é que sim, esteve. E eu, como Mãe, deveria ter tido a coragem de dizer: NÃO, em alto e bom som. Devia ter tido a força de explicar que, tendo em conta a situação, o melhor seria não privarem com a Francisca durante alguns dias, porque ela ainda é pequenina (provavelmente, a minha Princesa será sempre pequenina aos meus olhos, mas ainda só tem 5 mesinhos, completados hoje). Não o fiz... cedi, fechei os olhos, permiti... 
Pode até não ter sido isso como pode ter sido... Pode ter sido a sorte, pode ter sido o azar... Pode ter sido o acaso... Tanto pode ter sido tudo como pode não ter sido nada... Mas a dor de ver a minha filha assim é insuportável. O estar constantemente a vigiar a respiração. O vê-la vomitar o pouco leite que bebeu por causa de um ataque de tosse. O vê-la ser aspirada com sondas e ter de a segurar enquanto as lágrimas lhe caem pelo rosto... O passar a noite em claro com medo que deixe de respirar ou que sufoque com o vómito... Custa, muito... Não estava preparada para isto. Eu, que sempre primei pelo sangue frio e racionalidade, sinto-me a descarrilar por completo. E mais uma vez, voltamos às culpas que atribuo a mim mesma... 
Uma querida Amiga disse-me um destes dias: "É o preço a pagar por se ser mãe. tens que aceitar que essas culpas fazem parte do processo. Por vezes tens apenas de aceitá-las, por vezes  contradizê-las."
Ainda não as consigo contradizer, nem aceitar...
Imagem retirada daqui... 

5 meses de ti...

Hoje fazes 5 meses pequenina. Uma mão cheia de tudo e mais alguma coisa. 
Trouxeste à minha (nossa) vida mais do que alguma vez pensei que seria possível um filho trazer. Continuas a cara chapada do teu Papá. Desconfio que sais a ele em muito mais coisas que a aparência física e fico grata por isso! És muito calminha e super simpática. Sorris para toda a gente, não estranhas ninguém. Adoras que conversem contigo, respondendo às questões na tua língua, indecifrável para nós. Por vezes, pões até entoação nos teus longos discursos, como se estivesses a proclamar a restauração da República de novo. Dás gargalhadas giríssimas. Gostas que te cante Deolinda para adormeceres. Adoras beber o nhé (biberão) virada para mim e que te dê a mão enquanto bebes o leitinho, olhando-me com esses olhos cheios de ternura. Comes sopa e fruta cozida maravilhosamente bem, desde que percebeste para que serve a colher. Adoras tomar banho mas dá-te os 5 minutos quando tens de vestir as mangas da roupa, é uma panca muito tua.  
5 meses minha doce Francisca. Parece que o tempo demorou a passar e no entanto escorreu-me entre os dedos.  
Hoje deveria ser também o dia em que regressaria ao trabalho. Mas quis o destino (ou lá o que se chama a esta merda que controla tudo e todos e que foge das minhas rédeas) que ao invés de regressar à vida laboral, estivesse aqui, à tua cabeceira, a pedir, a suplicar que fiques boa depressa. A noite foi terrível, passada quase em branco, sobressaltada por essa tosse pavorosa que te encharca. Já chorei, já me culpei, já me perguntei o que fiz de errado para que isto acontecesse. Procuro vezes sem conta na minha mente o que fiz de errado que fizesse com que tu adoecesses. Provavelmente, nada. O teu Papá diz que acontece. Mas na minha cabeça, dou voltas e mais voltas para encontrar uma justificação. Porque tudo tem de ter uma explicação lógica, precisa, concisa... ou talvez não filha, já não sei em que acredito. Sinto-me perdida, impotente. Peço que a tua respiração volte a ser tranquila. Que essa tosse que te sacode toda e que te deixa sem fôlego desapareça. Que o teu sono volte a ser descansado. Que os teus olhos, lindos lindos lindos, voltem a brilhar intensamente. Que voltes a beber o nhé com a mesma sofreguidão de sempre.  
Lamentei-me que iria trabalhar hoje... Mas preferia mil vezes estar a trabalhar desde as sete da manhã do que te ver passar por este sofrimento. Acho que o destino ou o que se chama à coisa, tem uma maneira muito estúpida e cruel de me fazer relativizar as coisas. Já percebi a lição, já tinha percebido muito antes... Já estou faaaaaaaaaaarta de levar com as "tuas" lições. Podes pegar nelas e ir para o raio que te parta. Não sou burra, chego às mesmas conclusões sozinha, sem precisar de chapadas de luva branca... 
A minha menina faz 5 meses hoje. Oferece-me (-nos) todos os dias uma mão cheia de tudo.  E eu hoje sinto que só tenho uma mão cheia de nada para a ajudar...  
Parabéns pelos 5 meses, Maria Francisca Texuguinha... A Mamã adora-te tanto, tanto, tanto...
Imagem retirada daqui... 

29 janeiro 2012

Dos Domingos à noite...

É, de novo, Doningo à noite. Sem ti, sem o teu calor, sem o teu cheiro. 
São assim os nossos Domingos à noite. Enquanto nós nos despedimos no frio da noite de Janeiro, de certo que há imensos casais felizes a ver um programa qualquer na TV, com uma manta a aconchegar, sem saberem nem imaginarem quão momentos assim são preciosos. Sonho com eles para nós, porque ensinaste-me que enquanto me agarrar a este e muitos outros sonhos vou sempre aguentar mais uma semana. 
Mas hoje não é um Domingo à noite normal. A Francisca continua doente... O meu coração está pequeno, triste, mirrado. De cada vez que ela tem um ataque de tosse, sustenho a respiração. Sinto-me impotente para a ajudar, para a fazer sentir melhor. Sinto-me a pior Mãe à face da Terra, não sei o que fazer e tenho momentos de pânico. Desespero porque a minha Ternura pouco come. Sei que será mais uma noite de pouco descanso, sempre com medo, sempre alerta, sempre sobressaltada ao mais pequeno som. Anseio pela consulta com a Pediatra amanhã, na esperança que ela tenha qualquer  truque na manga que a ajude a melhorar rápido.
Por isso, hoje é um Domingo à noite ainda mais doloroso que todos os outros... Tu tiveste de ir embora e a Francisca está doente. 
Odeio Domingos à noite...  
Imagem retirada daqui... 

E que bem que ficam no meu closet...

Pois que quem não chora não mana, não é verdade? 
Super Maridão passou pelo blog, viu o que esta Princesa sem Reino andava a pedinchar et voilá. Sexta feira recebi uma "saquita" da H&M com todas as poneisices por mim desejadas e suspiradas... 
Para já, o primeiro modelito fica bem no meu closet (fica mais pónei que armário) que está um frio de rachar... A segunda poneisice já foi fazer um test drive, que foi amor à primeira vista... (mesmo que ele diga: sim Paris Hilton, traz lá a póoooochete...).

28 janeiro 2012

Dos "sem noção..."

Os "sem noção" são uma sub-espécie humana. vários marcadores (não genéticos, espero eu) que fazem com que um aparente ser humano normalíssimo possa ser categorizado como "sem noção". 
Aqui ficam alguns desses marcadores para que atentem e saibam se estão em presença destas aves raras ou não: 
- se vão ao Ginecologista e são inquiridas como correu a consulta por um humano XY, que não o vosso Marido (ou esticando muuuito a corda, Pai)
- se se levantam da vossa mesa, em vossa própria casa e são sempre inquiridas de qual o vosso destino (vou só ali fazer um chichizinho, oh deixe por favor...); 
- se são inquiridas do local onde a vossa cria foi concebida, com direito a insistência na impertinente questão (pode, em casos extremos, ser acompanhado de inquirição sobre a posição do acto, não que alguma vez o tenha presenciado);
- se o ser humano em questão tem memória de peixe, fazendo refresh a cada 3 segundos (isto sem que aquele senhor Alemão, tanto quanto se saiba, lhe ande a toldar as ideias), fazendo com que a mesma questão seja colocada over and over again, testando o limite da vossa paciência (e a capacidade de morder a língua e não responder com uma bela frase "nortenha");
- se o ser humano em questão tem opinião sobre o número de filhos que o casal deve ter, porque sim ; 
- se o ser humano em questão vem visitar a vossa criancinha doente e insiste em sentar-se ao lado dela, segurando-a pela mão, enquanto tosse qual D. Maria de Noronha (se não vos lembrais de quem é, ide ler Frei Luís de Sousa de novo) noite fora, enquanto a Mãe da criancinha se debate se o que está a ver é realidade ou se bateu com a cabeça numa esquina e está a ter alucinações;
Se alguma destas situações vos diz alguma coisinha, então poderão ser indícios da presença de um "sem noção" na vossa vidinha. 
Após várias pesquisas e estudos científicos, ainda não se descobriu a cura para um "sem noção". Existem alguns estudos remontantes ao tempo dos Vickings que sugerem que a melhor maneira de lidar com esta sub espécie é usando a técnica faça-cara-da-cú-e-use-da-cabeça-para-responder-à-letra. Outros estudos há, que apontam como melhor caminho a seguir o sou-mouquinha-desculpe-mas-não-ouvi-por-isso-não-posso-responder. Fica ao encargo do próprio decidir qual das técnicas deverá usar, quando confrontado com feroz sub espécie. Eu continuo sem saber qual devo aplicar, limitando-me a fazer cara ainda mais de parva incrédula... 
E depois, eu é que preciso de maravilhas farmacêuticas... Está bem está... 

27 janeiro 2012

Da angústia de a ver doentinha...

Maria Francisca Texuguinha está doente. Tosse com as "tubagens" todas entupidas e eu pouco ou mesmo nada lhe posso valer.  
De cada vez que ela tosse, o meu coração parece que fica mirrado e pára por segundos, tamanha é a aflição e dor que sinto.  
Mesmo entupida e ranhosa, foi simpática para quem a atendeu esta manhã nas Urgências. Nem doentinha perde o charme. Mas aqueles olhinhos que costumam estar tão vivos de curiosidade, hoje estão mais apagadinhos... 
Fica boa depressa, ternura da Mamã...
Imagem retirada daqui... 

26 janeiro 2012

Amanheceu cinzento...

Amanheceu cinzento o dia... Lá fora e em mim... 
Queria que houvesse um botão pause, um botão rewind, qualquer coisa... Qualquer coisa, por favor...Por favor... 
Quero ficar abraçada a ti, com a tua cabeça junto ao meu peito, skin on skin, horas sem fim... Perder-me no tempo contigo, nesses teus olhos tão doces, tão meigos. Não quero sair desta cama, deste quarto. Quero ficar aqui, contigo, num aconchego simples e doce. 
Queria que a vida fosse como eu sonhava que ela seria. Quero que a tua vida seja como tu a quiseres sonhar pequenina... 
Tenho medo, tanto, tanto, tanto medo. Medo que te esqueças de mim, que não saibas quem eu sou, meu Tesouro. Que passes a gostar mais dos Avós. Que prefiras o colo deles ao aconchego do meu peito cheio de amor por ti, pequenina Princesa, meu raio de Sol. 
Tenho receios Filha, muitos... Mais do que palavras possam expressar... 
Loucura, insanidade? Talvez...
Continua cinzento lá fora. Dentro de mim, escuro... 
Imagem retirada daqui 

25 janeiro 2012

Good night dear, sleep tight...#7

 
O essencial é amar os outros. Pelo amor a uma só pessoa pode amar-se toda a humanidade. Vive-se bem sem trabalhar, sem dormir, sem comer. Passa-se bem sem amigos, sem transportes, sem cafés. É horrível, mas uma pessoa vai andando.  
Apresentam-se e arranjam-se sempre alternativas. É fácil.  
Mas sem amor e sem amar, o homem deixa-se desproteger e a vida acaba por matar. 
Philip Larkin era um poeta pessimista. Disse que a única coisa que ia sobreviver a nós era o amor. O amor. Vive-se sem paixão, sem correspondência, sem resposta. Passa-se sem uma amante, sem uma casa, sem uma cama. É verdade, sim senhores.
 
Sem um amor não vive ninguém. Pode ser um amor sem razão, sem morada, sem nome sequer. Mas tem de ser um amor. Não tem de ser lindo, impossível, inaugural. Apenas tem de ser verdadeiro. 
O amor é um abandono porque abdicamos, de quem vamos atrás. Saímos com ele. Atiramo-nos. Retraímo-nos. Mas não há nada a fazer: deixamo-lo ir. Mais tarde ou mais cedo, passamos para lá do dia a dia, para longe de onde estávamos. Para consolar, mandar vir, tentar perceber, voltar atrás. 
O amor é que fica quando o coração está cansado. Quando o pensamento está exausto e os sentidos se deixam adormecer, o amor acorda para se apanhar. O amor é uma coisa que vai contra nós. É uma armadilha. No meio do sono, acorda. No meio do trabalho, lembra-se de se espreguiçar. O amor é uma das nossas almas. É a nossa ligação aos outros. Não se pode exterminar. Quem não dava a vida por um amor? Quem não tem um amor inseguro e incerto, lindo de morrer: de quem queira, até ao fim da vida, cuidar e fugir, fugir e cuidar? Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume' 
Boa Noite G.   
Imagem: Marc Chagall

Da Princesa Avestruz...

Para a semana, Princesa sem Reino regressa à vida profissional de forma ativa, o que não equivale a produtiva, sejamos claros e concisos. Neste momento, as minhas skills passam por: mudar fraldas em menos de 5 minutos (com direito a creme barreira), preparar biberões hiper mega rápido, entre outras coisas que poderia acrescentar ao meu curriculum vitae, que pouco ou nada importam para a vida beyond Mommyland...
Maria Fracisca Texuguinha ficará aos cuidados dos Avós, maternos e paternos. Dividirão a piquena como uma espécie de troféu (haja paciência e muitos deep breaths...). Pelo menos até completar um aninho, será assim... Depois, tenho outras ideias para a minha rica filha, mas ainda estamos em fase de negociações...
Se estou preparada para ir trabalhar? Não!!! Not at all!!! Mas, algum dia iria ter de ser, que o EuroMilhões não quer conversa comigo (sacaninha parvalhão, sempre a dar-me esperanças) e a horribilis Coisa-Tese-de-Doutoramento anda a pesar-me muito nas costas (não quero que chegue à parte de me pesar no bolso, por isso tenho de me fazer à vida antes que a vida se faça a mim). 
Atirar-me ao trabalho vorazmente e como se não houvesse amanhã (not!!!) é só na Segunda feira. Até lá, faço de conta que falta uma eternidade e aproveito para planear o fim de semana que aí vem... 
Segunda feira, logo bato de frente com a realidade... (e não haverá airbags nem nada que me salve do choque e da dor que me vai assolar). Até lá, sou a Princesa Avestruz ...

Bom dia...

She's wearing the smile we gave her...
Todos os dias...

24 janeiro 2012

Good night dear, sleep tight...#6


 Porque este texto faz todo o sentido na nossa história... Porque tivemos a sorte de o primeiro amor ser também o primeiro casamento...
Não há amor como o primeiro. Mais tarde, quando se deixa de crescer, há o equivalente adulto ao primeiro amor — é o primeiro casamento; mas não é igual. O primeiro amor é uma chapada, um sacudir das raízes adormecidas dos cabelos, uma voragem que nos come as entranhas e não nos explica. Electrifica-nos a capacidade de poder amar. Ardem-nos as órbitas dos olhos, do impensável calor de podermos ser amados. Atiramo-nos ao nosso primeiro amor sem pensar onde vamos cair ou de onde saltámos. Saltamos e caímos. Enchemos o peito de ar, seguramos as narinas com os dedos a fazer de mola de roupa, juramos fazer três ou quatro mortais de costas, e estatelamo-nos na água ou no chão, como patos disparados de um obus, com penas a esvoaçar por toda a parte. 

Há amores melhores, mas são amores cansados, amores que já levaram na cabeça, amores que sabem dizer “Alto-e-pára-o-baile”, amores que já dão o desconto, amores que já têm medo de se magoarem, amores democráticos, que se discutem e debatem. E todos os amores dão maior prazer que o primeiro. O primeiro amor está para além das categorias normais da dor e do prazer. Não faz sentido sequer. Não tem nada a ver com a vida. Pertence a um mundo que só tem duas cores — o preto-preto feito de todos os tons pretos do planeta e o branco-branco feito de todas as cores do arco-íris, todas a correr umas para as outras. 
Podem ficar com a ternura dos 40 e com a loucura dos 30 e com a frescura dos 20 — não há outro amor como o amor doentio, fechado-no-quarto, o amor do armário, com uma nesga de porta que dá para o Paraíso, o amor delirante de ter sempre a boca cheia de coração e não conseguir dizer coisa com coisa, nem falar, nem pedir para sair, nem sequer confessar: “Adeus Mariana — desta vez é que me vou mesmo suicidar.” Podem ficar (e que remédio têm) com o «savoir-faire» e os «fait-divers» e o “quero com vista pró mar se ainda houver”. Não há paz de alma, nem soalheira pachorra de cafunés com champagne, que valha a guerra do primeiro amor, a única em que toda a gente perde e toda a gente morre e ninguém fica para contar como foi. 

Não há regras para gerir o primeiro amor. Se fosse possível ser gerido, ser previsto, ser agendado, ser cuidado, não seria primeiro. A única regra é: «Não pensar, não resistir, não duvidar». Como acontece em todas as tragédias, o primeiro amor sofre-se principalmente por não continuar. Anos mais tarde, ainda se sonha retomá-lo, reconquistá-lo, acrescentar um último capítulo mais feliz ou mais arrumado. Mas não pode ser. O primeiro amor é o único milagre da nossa vida — «e não há milagres em segunda mão». É tão separado do resto como se fosse uma primeira vida. Depois do primeiro amor, morre-se. Quando se renasce há uma ressaca. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'
Boa Noite G.
Imagem: Marc Chagall, Les maries dans le ciel de Paris 

Do amor animal...

Ela é uma canina. Ele é um gato. Ela chama-se Mofli, já sobejamente falada por aqui... Ele é Don Juanito, el Lorde (o gato-que-era-gata-mas-depois-de-abrir-SURPRESA-é-um-gato aka Gato travesti e se a Matriarca da Tribo me ouve dizer isto vem já com o discurso do "não chames isso ao bichinho"), que veio da rua para ocupar, sem meias medidas ou ponta de humildade, o seu lugar nesta Tribo.  
Não tenho nada contra a paixão avassaladora que une este par de jarras.  Ele é lambidelas a toda a hora, abraços, dormir enroscadinhos e coisas afins... Até simpatizo com Don Juanito, el Lorde (tirando o não saber miar, mas isso pode estar relacionado com o gato-que-era-gata-mas-desculpe-lá-afinal-é-gato... pobre bicho). Aliás, aprecio profundamente o facto do bichano ser extremamente culto, passando longas horas no escritório da Tribo, deliciando-se entre livros e mais livros das variadas áreas que co-habitam por cá. Creio até que um destes dias se debruçava sobre Rousseau. 
Mas alguém deveria explicar a estes dois que o amor deles é assim uma coisa à la Romeu e Julieta...  
Mofli, minha querida esfregona destrambelhada: ele é um gato, Mofli...Ga-to... Outra vez: Ga-to... Espécies diferentes, estás a ver a coisa? Ele: Ga-to. Tu: Ca-ni-na (ou amostra de)... 
Mas pronto, o que a Natureza uniu, não vou eu separar...

Das cartas da Maya...

Este programa é uma ver-da-dei-ra PÉROLA!!Top, top, top!!! 
A Maya diz que tem os canais de energia tooodos abertos para falar "comigo"... Que me-do...  (eu não quero falar consigo, obrigadinha...)
Está para ali uma mocinha, do alto dos seus 22 anos, a dizer que sempre que fala ao namorado em casamento, ele foge... "Doutora" Maya diz que, sem dúvida alguma, vai haver casamento. Não sabe é quando. Mas que vai correr tudo muito bem, que vão ser muito felizes e mimimimimi... E que não se oferece para ir ao casamento porque acha que são uma grande seca... DO MELHOR!!! (Mas alguém a convidou??? Bem, caso o rapazinho esteja indeciso, a mocinha pode sempre alegar que  Maya disse que haveria casório, por isso ele que não se arme em parvo porque vai casar com ela sim senhor...) 
Diz também que hoje é um dia muito difícil por causa da conjuntura dos signos... Vou já sentar-me muito quieta no sofá com uma colher de pau a jeito não vá o Demo tecê-las. É que eu não tenho os canais de energia tooooooooodos abertos. Nem abertos nem fechados. Devia ser um extra e os meus Pais quiseram poupar uns trocos... 
Imagem retirada daqui 

Good night dear, sleep tight...#5


 Desde que nos deixaste o tempo nunca mais se transformou 
Não rodou mais para a festa não irrompeu 
Em labareda ou nuvem no coração de ninguém. 
A mudança fez-se vazio repetido 
E o a vir a mesma afirmação da falta. 
Depois o tempo nunca mais se abeirou da promessa 
Nem se cumpriu 
E a espera é não acontecer — fosse abertura — 
E a saudade é tudo ser igual. 

Daniel Faria, in "Explicação das Árvores e de Outros Animais"

Boa Noite G. 

Imagem: Marc Chagall, Le Champ de Mars

23 janeiro 2012

Do que ando a pedinchar...

Como é meu apanágio, quem não chora, não mama... Por isso mesmo, venho para aqui "chorar" estas pecitas básicas, baratuxas e indispensáveis a qualquer Mulher que tente voltar a ser fashion (ou não) depois de meses em casa, em que o outfit consistia no belo do pijaminha cor de rosa às vacas loucas e "chenatos" nos pés... o que me relembra que para a semana vou trabalhar... pânico...medo...insegurança...essas coisas todas e mais algumas em que não quero pensar agora... 
Perguntais vós: e a quem pedinchas tu, Princesa sem Reino, com olhar de cachorro fofo e meigo com muito rímel nas pestanas? A SuperMaridão, pois claro, na esperança que ele passe por aqui a ver como "param as modas..."

Numa H&M pertinho pertinho... Aaaaaah, a camisa por baixo do blazer também faz parte do cabaz vá-lá-por-favor-por-favor-por-favor-por-favor...

Da novela "Sopa, o começo de um novo capítulo"... Ep. 3

Pois que ao fim de uma semana (estava a ver que nunca mais te fazias à vida piquena), a protagonista desta juicy soap opera aprendeu, finalmente, para que serve a colher
Ao fim de uma semana Maria Francisca Texuguinha já sabe que, se abrir bem a boquita de passarito, aquela coisa transparente e amarela com líquido alaranjado, entra boca adentro despejando o dito líquido e... oh maravilha das maravilhas, até que sabe bem... 
Aprendeu também como se chama lesma à Mãe : pedalando furiosamente na sua bicicleta imaginária, cadeira da papa a abanar vigorosamente e perigosamenteolhos arregalados e expressão no olhar de oh-atraso-de-vida-a-minha-com-esta-lesma-dá-cá-mais-dessa-coisa-cor-de-laranja-duuuuh. 
Claro que não é tudo assim tão pónei e cor de rosa. Sô Dona Francisca descobriu que, de vez em quando e só porque é giro e até lhe dá estilo, sabe mandar umas valentes cuspidelas de sopa para a Mãe. A última aterrou direitinha bem no centro da testa, escorrendo depois para os olhos (que nooooooojoooo). Pontaria perfeita.. Quer-me parecer que a piquena é uma snipper da sopa... 

Good night dear, sleep tight...#4


Eu estava à procura na ciência da satisfação que o esforço da pesquisa e o momento da descoberta oferecem; eu nunca fui daquelas pessoas que não aguentam o pensamento de terem desperdiçado a sua vida antes de terem conseguido escrever o seu nome na rocha pelo meio das ondas. Mas quando penso como é que eu seria se não te tivesse encontrado – sem ambição, sem saber desfrutar os pequenos prazeres da vida, sem qualquer fascínio pela magia do ouro, e ao mesmo tempo dotado de uma inteligência moderada e sem quaisquer meios materiais – iria sentir-me muito miserável e entraria em declínio. Tu dás-me não apenas objectivos e direcção, mas também tanta felicidade, que nunca poderia sentir-me insatisfeito com o presente infortunado que vivo neste momento; tu dás-me esperança e a certeza do sucesso. Eu sabia-o mesmo antes de tu me amares e sei-o agora que tu me amas, e é graças a ti que me tornei um homem auto-confiante e corajoso. 
Carta de Sigmund Freud a Martha Bernays, 9 de Setembro 1883 (excerto) 
Boa Noite G. 
Imagem: Marc Chagall, Romeo and Juliet 

22 janeiro 2012

Pontualmente...

Pontualmente, anunciaram que na linha 1, segunda plataforma, iria entrar o Alfa Pendular nº não sei quê proveniente de Braga com destino a Lisboa-Santa Apolónia. Pontualmente, o comboio parou e a porta da tua carruagem abriu. Tu entraste. Tivemos ainda tempo para um abraço apertado e um beijo, entre as minhas lágrimas que te molhavam o casaco... Sopraste-me um beijo e procuraste o teu lugar, enquanto te seguia do lado de fora... 
Dizem que com o tempo tudo se torna mais fácil... Que Sexta feira chega rápido e mimimimimi.. Não é verdade. Sei-o, sinto-o todas as semanas com a mesma intensidade da primeira vez, volvidos já tantos anos...
E a minha (nossa) vida vai continuando. Porque o tempo não pára e não se consegue congelar e fazer parar o tempo naquela sesta a 3 enquanto o sol se põe do lado de fora da janela. A minha (nossa) vida continua, mas em modo quase suspenso até Sexta-feira. 
Pontualmente, a porta da tua carruagem fechou-se e num ápice o comboio começou, primeiro lentamente e depois cada vez mais rápido, a deslizar... Fiquei a vê-lo desaparecer até ser um ponto de luz bem ao fundo da linha e por fim, desaparecer do meu campo de visão. Fiquei ali, com lágrimas gordas e teimosas a molharem-me a cara, no frio da noite. 
Parte de mim, partiu também no Alfa Pendular nº não sei o quê proveniente de Braga e com destino a Santa Apolónia, com paragens em Aveiro, Coimbra B e Lisboa-Oriente. Parte de mim, partiu, pontualmente, deixando-me mais só e como que em suspenso na bruma fria da noite... 
Pontualmente (assim o desejo), Sexta-feira, ouvirei dizer que vai dar entrada na linha nº1, primeira plataforma, o comboio Alfa Pendular nº não sei quê proveniente de Lisboa-Santa Apolónia com destino a Braga... Pontualmente, Sexta-feira voltarei a sentir-me completa, porque os teus braços vão de novo envolver-me...
Tenho saudades tuas... 
Imagem retirada daqui... 

Dos saldos...

Ir aos saldos e ver sapatos, sapatinhos, sapatoões, botas e botinhas de salto alto, lindos, maravilhosos e póneis a preços que gritam "leva-me para casa contigo por favor que eu faço-te feliz", é do mais traumatizante possível. Deveria até existir uma linha de apoio, algo do género shoeaddicted ou assim (se calhar até existe, mas eu jerica ignorante não conheço...). Estou uber traumatizada porque não os posso usar nem sei quando o poderei voltar a fazer... Ficaram eles a chamar por mim nas prateleiras e eu a ser arrastada, chorosa e com a alma devorada pelo drama, o horror e a tragédia de não os poder trazer comigo... 
Raios partam os saldos... E raios parta a minha bacia...  
Meus ricos sapatinhos de salto alto, quando puder voltar a andar a passear por esse Portugal fora na vossa companhia, a economia vai disparar em flecha. Oh lá lá, se vai...
Para já, vou curando a "dor" com sabrinas de todas as cores e feitios... 
Raios partam os saldos... 
Imagem retirada daqui 

21 janeiro 2012

Querida Ana Maldivas...

Querida  Ana Maldivas,  
Escrevo direccionada a ti porque foi o teu post que me veio à cabeça ontem. Uma Mãe cala... Palavras tuas, não minhas... 
Apressei-me a comentar, cheia de certezas e convicções, que só em situações muito específicas e particulares uma Mãe deve calar, a bem do filho. Pois que as coincidências, para quem acredita nelas. ou a merda do Karma, do destino, o nome da coisa aqui não interessa muito, em breve se apressaram a dar-me um valente par de estalos bem metido e a mostrar-me que sim... que muitas vezes uma Mãe cala. E sofre em silêncio... 
Olhando em retrospetiva, já "calei" no passado porque agora já não sou a Princesa sem Reino desbocada, destravada e destemida... Já não o posso ser... Porque sou Mãe...  
Por isso, talvez seja mesmo verdade... Uma Mãe cala a bem da felicidade do Filho e dos outros. Uma Mãe deixa de por a felicidade dela (ou mesmo bem estar) na sua lista de prioridades para por a da sua família. Porque o que se quer é uma família feliz. Porque a felicidade dos outros passa a ser mais importante... E se para isso for preciso calar, uma Mãe cala... 
E cada vez mais, acho que a vida é tão, mas tão mais fácil no lado  XY...
Imagem retirada  daqui

19 janeiro 2012

Dos filmes da minha vida VII e das Músicas que me aquecem o coração XXXI

Não é só o filme. É, também a peça. Vi-a em Londres há um par de anos, no nosso "primeiro" aniversário de Casamento. Já conhecia a história, mas nunca tinha visto nem a peça nem o filme. Foi paixão assolapada ao subir do pano e ao primeiro acorde. 
Li o livro e fiquei seriamente decepcionada... Passei a considerar Sir Andrew Lloyd Webber ainda mais brilhante e genial do que o que já o tinha em conta. No meu aniversário, SuperMaridão ofereceu-me o DVD da peça, at the Royal Albert Hall. Hoje, apetecia-me imeeeeeenso ver o dito... Pede-se a colaboração e compreensão de Sô Dona Maria Francisca Texuguinha. 
Apesar de gostar de toooodas as músicas e as saber de cor (Avé Sir Webber), esta é a minha preferida... 
Ah, e muitíssimo importante!!! Tenho para mim e isto ninguém me tira da ideia, que Miss Christine Daaé devia era ter ficado com o Phantom em vez de ir fazer vida com o desenxabido and-so-not-spicy Raoul... Não sei adonde é que a moça estava com a cabecita...

Past the point of no return - no going back now. Our passion play has now at last begun. Past all thought of right or wrong. One final question: how long should we two wait, before we're one? When will the blood begin to race? The sleeping bud burst into bloom? When will the flames, at last, consume us? 
(2004)

Past the point
of no return -
no backward glances:
the games we've played
till now are at
an end . . .
Past all thought
of "if" or "when" -
no use resisting:
abandon thought,
and let the dream
descend . . .

What raging fire
shall flood the soul?
What rich desire
unlocks its door?
What sweet seduction
lies before
us . . .?

Past the point
of no return,
the final threshold -
what warm,
unspoken secrets
will we learn?
Beyond the point
of no return . . .



18 janeiro 2012

Good night dear, sleep tight...#3



Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Para atravessar contigo o deserto do mundo, Sophia de Mello Breyner Andresen

Boa Noite G.
Imagem: Marc Chagall